Período cronológico: Idade do Bronze, Medieval Islâmico.
Condições da visita: Acesso livre.
Descrição: O Cerro do Castelo de Alferce ocupa um cerro alongado no sentido norte-sul, a uma altitude máxima de 488 metros. Atualmente, o Cerro do Castelo de Alferce está classificado como Sítio de Interesse Público.
Contexto ambiental: Ocupa o limite da mancha sienítica na área de transição geológica entre os sienitos nefelínicos e os xistos/grauvaques. É delimitado pelas ribeiras de Monchique e de Odelouca. A vegetação é composta por sobreiros e eucaliptos que dominam a paisagem envolvente.
Ocupação:
O castelo de Alferce, também conhecido por Castelo da Pedra Branca, sempre teve envolvido em lendas e incertezas pela população local. Este emblemático sítio arqueológico caracteriza-se por ser um hisn muçulmano – que significa castelo – e que terá sido ocupado numa primeira fase, durante a Idade do Bronze, e depois durante a época Visigoda (séculos V-VIII d.C.), sucedendo-se uma ocupação islâmica entre os séculos IX e X.
O Castelo do Cerro do Alferce caracteriza-se por ser um sistema defensivo formado por três recintos amuralhados não concêntricos. O terceiro recinto amuralhado C apresenta maiores dimensões e rodeia toda a elevação e, por sua vez as muralhas A e B ocupam o topo do cerro – enquanto o recinto A corresponde a uma área habitacional, o B estende-se para noroeste. O recinto C possui uma espessura de três metros, composto por blocos de sienito ligados por barro de grão fino, com uma altura atual de um metro. Esta muralha assenta no próprio declive da encosta (cerca de 380 metros até ao vale da ribeira de Monchique), o que lhe conferia excelentes condições de proteção. Não obstante, este mesmo recinto seria mais robusto nas vertentes oeste e sul por ser uma zona mais acessível. O recinto amuralhado A, apresenta uma configuração pentagonal composta por oito torres com formato quadrangular adossadas na parte exterior do recinto amuralhado, e ainda por vários acrescentos defensivos posteriores à construção da muralha. A entrada para este recinto localiza-se na muralha norte, orientada no sentido noroeste-sueste, em forma de cotovelo e posicionada estrategicamente em frente a um aglomerado rochoso. A escassos metros da muralha sul encontra-se um alcácer e uma cisterna de planta retangular, que se enquadram numa ocupação omíada-emiral (Século IX). Neste sítio arqueológico, além da ocupação islâmica, encontrou-se uma plataforma atribuída a Idade do Bronze a cerca de 50 metros do recinto amuralhado A e B.
Escavações:
As primeiras referências ao arqueossítio remontam os finais do século XIX, quando foi alvo de escavações por populares e exploradores. Na mesma época, Estácio da Veiga também intervencionou o local de onde resultou a planta mais antiga sobre a fortificação. Porém, as primeiras intervenções arqueológicas devidamente documentadas ocorreram em 2002 a 2004. A equipa de investigadores procederam à abertura de sondagens junto do hisn, junto do recinto amuralhado A, e de onde foram recolhidos alguns materiais arqueológicos. Desde 2014, a que a Câmara Municipal de Monchique tem vindo a promover a investigação, salvaguarda, valorização e divulgação deste sítio arqueológico. Nomeadamente, a partir de uma escavação diagnóstico do sítio em 2017 e, no ano seguinte através da realização de trabalhos de geofísica (Capela et al.2020). Este emblemático sítio, nos últimos anos conta com um projeto de investigação intitulado de Da Pré-história Recente ao Medieval Islâmico: antigas ocupações humanas no Cerro do Castelo do Alferce, dirigido pelo arqueólogo municipal Fábio Capela, do qual tem resultado novas informações.
O espolio arqueológico encontrado no arqueossítio é composto, maioritariamente, por cerâmicas, alguns ossos de animais e materiais relacionados com a metalurgia. No que concerne à ocupação islâmica, as cerâmicas seriam de pastas simples e de cozeduras regulares, algumas delas decoradas. Este conjunto apresenta uma morfologia bastante diversa, com a presença objetos de cozinha e mesa (taças, caçoilas, alguidares, panelas, entre outros), de armazenamento e transporte (cântaros, potes e jarros) e, em menos abundância, objetos de iluminação (candis) e de uso lúdico (pedras de jogo em cerâmica). Além das cerâmicas, foram encontrados vários objetos ligados à atividade metalúrgica, nomeadamente cadinhos, lâmina de punhal, cavilha de ferro, entre outros. As sociedades humanas que habitaram o Cerro do Castelo do Alferce viveriam sobretudo da agricultura e pastorícia, tal facto foi comprovado pelos ossos de bovinos e caprinos encontrados no sítio. Porém, estas sociedades também caçavam e consumiam peixe e molusco, indicando trocas comerciais e culturais com outras sociedades.
Em relação à ocupação referente à Idade do Bronze, os materiais arqueológicos são compostos por cerâmicas sem perfis completos e, por esta razão, não existem detalhes sobre a inserção crono-cultural destes objetos. Contudo, foi encontrado um artefacto ideotécnico com um formato trapezoidal, com secção transversal retangular e polido, com várias cavidades circulares dispostas de forma alinhada. Pelas suas características, este objeto teria uma função simbólica e siderotécnica.
Fontes históricas parecem indicar que este sítio arqueológico se relacione com o Munt Šāqir da cora de Ocsonoba descrito como montanha bem defendida e próxima do mar, onde se instalaram rebeldes berberes e muladis em duas fases distintas do século IX. Importa referir que o sítio tem sofrido afetações ao longo dos anos devido sobretudo a fatores antrópicos, a partir da segunda metade do seculo XX, relacionados com práticas agrícolas e uso de maquinaria, entre outros fatores.
Referencias bibliográficas:
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